Um dia daqueles…

Um dia daqueles…

Quem nunca teve um dia ‘daqueles’…? Sabe, daqueles que destoam do padrão da nossa vida diária? Pode ser “daqueles” muito bons, em que tudo parecia dar certo, era o seu dia de sorte, impressionante! Ou, “daqueles”, cheio de várias surpresinhas desagradáveis ao longo do dia, no qual tudo dava errado e que você não via hora que esse dia acabasse logo, temendo ainda pelo pior dada a maré de azar. Eu já tive ambos desses dias e acredito que você também, não? Então, já parou para pensar se existiria uma explicação para isso? O que faz com tenhamos esses dias “daqueles”? É possível controlá-los? Temos como recriar e viver mais vezes aqueles dias de “sorte grande”? E o contrário, temos o poder de evitar aqueles dias nos quais “acordamos com o pé esquerdo”?

Bem, se você espera que eu tenha essas respostas, nem precisa ler o texto até o fim, pois eu lhes digo, já de início, que não as tenho. Receitas prontas, são mais fáceis, eu sei, mas às vezes não funcionam nem para a culinária, quem dirá para a vida de pessoas!  Aos que possuem a curiosidade filosófica, e costumam se ocupar das perguntas, desejo uma boa leitura!

Alberto é homem que costumava ser muito fechado à novas ideias, pensava seus pensamentos sempre da mesma maneira e isso não lhe fazia nada bem. (Claro que ele não sabia disso, afinal, sou eu quem estou contando a história). Até porque, nunca ninguém havia lhe ensinado a pensar diferente e ele nem mesmo sabia que sequer isso era possível. Embora fosse uma pessoa que consideraríamos educada e até certo ponto gentil, dentro dos padrões sociais do que temos como uma boa educação, por dentro dele, a coisa toda era muito diferente: Ele tinha pensamentos que eram muito inconvenientes. Digo inconvenientes, para ser delicada, na verdade, o Pensamento de Alberto era bastante mal-educado, era um inimigo que muito lhe atrapalhava. Quanto mais Alberto se fechava em si mesmo, mais seu Pensamento mal-educado gritava alto com ele, escravizando-o. Mas, tal como o trocadilho com o seu nome, de tirar a letra L, para então tornar-se: Aberto; em sua vida, bastava apenas algo tão pontual quanto uma letra em seu nome – mas que pode fazer toda a diferença: começar a educar seu Pensamento!  Com isso, se libertar das velhas correntes que só permitiam alcançar até sempre o mesmo ponto, aprender que existe a possibilidade de se educar o pensamento, mesmo que nunca lhe tenham ensinado sobre isso na escola e, que, para algumas pessoas – como Alberto, a Educação do Pensamento[1] é imprescindível para uma vida melhor de acordo com a própria historicidade da pessoa.

Uma manhã, que parecia ser igual a todas as outras, o despertador tocou e Alberto continuou na cama para uma última soneca de cinco minutinhos, de súbito, acordou sobressaltado com um estrondo: coração palpitando, respiração acelerada, pulou da cama com os olhos arregalados, procurando pelo estrondo que já tinha se acabado. Em segundos, só restou a agitação no peito. Silêncio. Olhou na janela: Nada! Uma senhora passeava tranquilamente com seu cachorro pela calçada, o silêncio tranquilo, típico das manhãs, nenhuma evidência do estrondo. Fechou a janela rápido, correu para o quarto do filho que dormia um sono pesado e gostoso: – “Filho, acorda! Você ouviu a explosão? ”  – Disse Alberto, dando uma sacudidela no menino.

– “Bom dia, pai. Nos meus sonhos não havia nenhuma explosão. Mas foi uma bela maneira de me acordar, assim com um susto. Valeu, pai! Mas vou voltar a dormir porque ainda falta meia hora para o despertador” – disse o adolescente, devolvendo o celular sob o travesseiro.

– “Como era possível, será que estou ficando louco? O que foi aquilo, eu juro que ouvi! ” –  Pensava Alberto voltando para o seu quarto. Já abrindo a porta do banheiro, sentiu que algo emperrou debaixo da porta e foi arrastando no chão. Eis a surpresa: não havia mais vidro no box do banheiro, mas um monte de estilhaços por todo o chão. Sentiu alívio e ódio ao mesmo tempo, e nem sabia que essa ambivalência de sentimentos existia: Alívio, por finalmente ter desvendado o mistério do estrondo e, mais ainda por não estar ficando louco, e ódio, pela cena que via espalhada pelo chão do banheiro. Precisava limpar tudo aquilo, iria se atrasar, lembrou que precisava tomar banho, pois assim era o seu costume, só começava bem o seu dia depois de tomar banho e um café assistindo o jornal da manhã.

Havia dois chuveiros na casa, lembrou ele, então separou uns pertences e indo para o outro banheiro, ouviu o filho que cantava no chuveiro. – “Esse garoto fica cantando no chuveiro e demora horas, adolescentes… Ele nunca toma banho a essa hora, justo hoje, que azar o meu! ” – Praguejou Alberto em pensamento.

Voltou para o outro banheiro, e começou a varrer os cacos de vidro enquanto pensava em como aquilo havia estourado sozinho, já tinha ouvido falar que isso pode acontecer quando há alguma pequena rachadura praticamente imperceptível que se expande até que, um dia, estoura sozinha. Não se lembrava se havia batido sem querer naquele vidro nos dias anteriores, que pudesse ter ocasionado o estrago…, mas se lembrava muito bem de todas as “pancadas” que ele próprio havia levado da vida, pensava, que assim como o box de vidro havia ficado em milhares de pedacinhos pelo chão, talvez um dia as rachaduras escondidas em sua alma, também fossem se expandindo até levar a uma explosão. Ele não queria terminar sua vida todo fragmentado em um monte de pedaços, que nada mais é, se não, do que lixo. Ele tinha facilidade em criar metáforas, mas elas sempre beiravam a catástrofe, por mais que ele falasse que desejava ter dias bonitos, ter sorte na vida, ele tinha uma tendência em viver exatamente o contrário, mesmo que fosse em seus pensamentos. Alberto padecia do seu Pensamento.

Tem gente que acha que pode pensar qualquer coisa, afinal, ninguém vê ou sabe o que se passa dentro de nós. Aprendi com a Filosofia Clínica que, pelo contrário, não se pode pensar qualquer coisa, não. Em alguns casos, isso pode ser muito nocivo à vida pessoa, pode causar danos sérios na Estrutura de Pensamento, é preciso ter cuidados e, para esses casos, é indicada uma Educação do Pensamento. O pensamento de alguns é mal-educado, envereda por caminhos destrutivos, possui materialidade capaz de causar danos, anda desvairadamente por lugares contraproducentes à malha intelectiva da pessoa. Precisa urgentemente de uma boa educação, para que se torne um amigo, para que ajude e oriente a pessoa, fazendo com que ela possa se sentir melhor – de acordo com o que têm a ver com ela existencialmente.

Alberto diz que coisas bonitas têm a ver existencialmente com ele, diferentemente de como ele está se sentindo no momento, que é com muita raiva, porque tentou sugar os cacos de vidro com o aspirador de pó, funcionou no começo, mas agora Alberto dá socos no botão: – “É… parece que essa porcaria queimou, mais isso, eu mereço!” Reclamava ele quando seu filho veio à porta já de uniforme e mochila nas costas: – “Xiiiiiiii…Pai, lembra que hoje a gente não pode se atrasar, tem aquela reunião de pais na escola no início da aula. Eu já tomei café da manhã e estou pronto, vou esperar no carro”.

– “Mas eu nem tomei banho ainda, afinal, porque você decidiu tomar banho hoje de manhã, filho? ”

– “Bom, tentei voltar a dormir, mas havia passado o sono com o susto que você me deu, então, já que estava meia hora mais cedo, decidi aproveitar, para ir cheirosinho para a escola ver as meninas…” O garoto, rindo feliz, colocava seus fones de ouvido, e ia para a garagem.

Alberto, já estava bastante irritado, pensava ele: – “Tudo começou com a maldita explosão do box do banheiro, aí acordei o menino antes, ele foi tomar banho, não pude usar o banheiro, estou sem tomar banho, ainda por cima suado de ficar recolhendo todo esse vidro, o aspirador decidiu queimar só para não colaborar comigo, agora não dá mais tempo tomar banho, nem café, nem jornal, porque tem aquela baboseira de reunião na escola, que é importante para o meu filho que o pai dele vá. Vou ter que ir assim mesmo, me sentindo sujo sem ter tomado banho, desinformado por não ter visto o jornal, meu deus, o que será de mim hoje? ”

Já no carro, dirigindo para a escola, Alberto – que não costuma ser lá muito gentil no trânsito – deixa claro para todos os outros motoristas que não está em um bom dia. Ainda para piorar, um caminhão quebrado na pista faz as filas ficarem ainda mais lentas, fazendo com que Alberto pegue todos os semáforos fechados, inclusive o mesmo, fechado por mais de uma vez. Para piorar ainda mais, se é que isso é possível, pois são apenas 07:15 da manhã, começou a chover. Alberto já reclama da chuva para o filho dizendo que o tempo ficou ruim, na verdade, o clima nunca conseguiu ganhar um elogia de Alberto: Se chove, é tempo feio; se tem sol, é porque é calor de mais; se esfria, é ruim ter esfriado, etc… Mesmo com toda a variedade climática, Alberto sempre está insatisfeito. Como ele mesmo já suspeitava, não tem vaga para estacionar por causa da tal reunião, todos os outros pais devem ter chegado mais cedo e ocuparam todas as vagas próximas da escola. Ele tenta dar uma volta na quadra, nenhuma vaga de estacionamento. Só há duas opções, ou vaga para pessoas com necessidades especiais, ou portões de garagem. Como ele não quer ter ainda mais problemas do que já teve hoje, ser multado e ter seu carro guinchado por estacionar na frente entradas, opta por usar uma vaga indevidamente, por ser mais próxima da escola, melhor do que se molhar um pouco na chuva – já que nunca lhe passou pela cabeça deixar um guarda-chuva no carro – do que sair da reunião e ver o guincho carregando seu carro por estar trancando um portão de garagem, ele no fundo tem consciência de que aquela vaga não é para ele, mas acaba ignorando como se nada fosse.

Pensou que, dessa vez, havia feito a escolha certa, estava evitando ter problemas, afinal, essa reunião devia ser coisa rápida, ninguém ia ver que ele estava usando uma vaga indevida, pensava ele.

Acontece que a tal reunião, que o filho tanto insistiu para que o pai fosse, era uma palestra motivacional para os pais, um suposto “presente” da escola, a fim de que os pais pudessem começar bem o seu dia antes de irem para o trabalho tendo deixado os filhos na escola. Mas… a diretora tomou a palavra e se desculpou por que atrasariam o início um pouco além do horário marcado, pois a palestrante estava a caminho e pediu que aguardassem.

Que droga, pensou Alberto: – “Que espécie de palestra motivacional para pais é esta? ‘Venha trazer seu filho para a escola e fiquei preso aqui até chegar muito, mas muito, atrasado no seu trabalho!?’ Logo, hoje que tenho aquela reunião importante, que azar! ”

São 09:47 da manhã, e definitivamente, era um “dia daqueles” para Alberto. No auditório da escola, lotado de pais, a diretora ao microfone, gentilmente pergunta se por acaso um carro tal modelo, placa tal, estacionado em uma vaga exclusiva para pessoas com deficiência, próxima à escola, é de algum dos presentes. Pois está lá sendo guinchado nesse momento.

Então Alberto, levanta, ainda com as roupas um pouco molhadas da chuva, agora encharcado até o último fio de cabelo pelo constrangimento, e diz que o carro era seu, que achou que ia ser rápido, que era a primeira vez na vida que usava uma vaga de estacionamento que não lhe cabia, que nunca fazia dessas coisas…. Que no fundo, ele sabia que eram desculpas, tentando encarar a vergonha diante dos olhares e do burburinho de desaprovação dos outros pais. Que tipo de exemplo de educação daria esse cidadão a seu filho? Realmente, era lamentável. Pensava ele, sobre o que os outros pais estariam pensando dele…

Enquanto se dirigia para o carro para ver as dimensões da encrenca, viu a palestrante motivacional chegando: em uma cadeira de rodas, era uma senhora idosa, mas com uma vivacidade que parecia torná-la mais jovem. Aquilo fez ele pensar muitas coisas em segundos e se sentir culpado, se sentiu péssimo. Até então só estava sentindo raiva, fúria, agora tinha até ódio de si mesmo, por fazer as coisas que ele faz. Encostou-se na parede do corredor vazio, sentindo vontade de chorar com pena dele mesmo. Ouviu a palestrante sendo aplaudida pelos pais, e o começando a falar.

Ela disse que pedia perdão a cada um deles por ter se atrasado, disse que não ia dar justificativas pelo atraso, que reconhecia que a culpa era dela, mas que gostaria de lhes contar os motivos que levaram ao atraso, disse aos pais, que problemas assim, acontecem com todo mundo, todos tem “um dia daqueles” de chegar atrasado, por exemplo, em uma palestra para pais de uma escola muito querida que a aguardavam, mas que a forma como escolhemos lidar com esses contratempos é que fazem com que tenhamos um ótimo ou um péssimo dia. E que era sobre isso que ela falaria a eles.

Ouvindo essa fala, Alberto continuou colado a parede, imóvel, respirando baixo. Não adiantaria nada, argumentar com os policiais, sabia que estava errado. Não conseguia se mexer, deixou que o guincho levasse seu carro e que depois resolveria. Era um dia daqueles para ele também, por isso, ao ouvir essas palavras da palestrante se sentiu fisgado, e quis ouvir o que aquela mulher ia falar.

Ela falou sobre os bons pensamentos que cultiva todas as manhãs assim que acorda, para começar bem o seu dia. Disse que tomou um café gostoso, daqueles que enchem a alma de gratidão por mais um dia pela frente, e que estava vindo para a palestra dirigindo e ouvindo rádio, quando começou a tocar a sua canção favorita do momento e uma chuva linda começou a dançar suave na manhã. Disse que o trânsito estava lento, porque um caminhão havia quebrado na pista, mas que não se preocupou com a possibilidade de atraso, porque isso raramente acontece com ela, então se um dia acontecer, ela irá tolerar sabendo que foi uma eventualidade e, que provavelmente, não voltará a se repetir, e que intuía em seu coração que os pais que a aguardavam eram pessoas compreensivas, que entenderiam com carinho a situação. Falou que havia um carro em sua frente dirigindo como se só existisse ele no mundo, e que este motorista, acabou cortando a pista de um outro carro, tentando “costurar” as filas, nisso vinha um motociclista que tentou desviar e acabou caindo. O tal motorista grosseiro, continuou tentando passar por todo mundo, e nem viu que ocasionou a queda do motociclista, e foi-se embora com pressa em meio a lentidão. Como a palestrante estava atrás de tudo isso, ficou presa antes do acidente, tendo que aguardar o motociclista a esperar pela chegada do resgate. Aí sim, o trânsito trancou de vez e ela teve que ficar esperando ainda por mais tempo, mas aproveitou para cantar suas canções junto ao rádio e ficar vendo a chuva lavando as sujeiras das ruas. Quando chegou, por sorte, havia uma vaga de estacionamento bem na frente à entrada da escola, mas como ela ao passar costuma sempre olhar para as vagas especiais, viu um carro sem identificação utilizando indevidamente a vaga, como ela sabe bem das dificuldades, sempre que vê, toma esta atitude de denunciar. Pediu que os pais também começassem a ter esse hábito, como cidadãos em favor aos direitos humanos dos que necessitam de especificidades. Ela disse, pasmem vocês, que era o mesmo carro que ocasionou o acidente com o motociclista, contou que tinha uma boa memória e se lembrava da placa. Quando Alberto ouviu ela recitar a placa do seu carro, sentiu um profundo remorso a lhe queimar no estômago. E por um momento não ouviu mais nada, só o silêncio petrificado vindo do auditório.

Quando voltou a ouvir, ela falou que não ia permitir que um atraso transformasse seu dia em um péssimo dia, que não ia dar foco àquilo que ela não queria para sua vida, mas que se ocuparia das coisas que lhe faziam bem, dos pensamentos bons e que imediatamente sua alma se enchia de paz. Disse que hoje seria um dia daqueles maravilhosos para ela, e para todos os que assim escolhessem também, apesar de tudo aquilo que pudesse ter ocorrido no início da manhã. Falou que assim também é com nossas vidas, por mais problemas que tenhamos tido ao longo dos anos, por mais que os dias tenham sido um amontoado de desastres corriqueiros ou grandes tragédias, todos temos o poder de escolher o que vamos fazer com isso, se vamos ficar lamentado e revivendo as dores, ou se vamos virar a página e começar a escrever sobre o nosso agora. O público interrompeu a fala dela com aplausos, ela agradeceu e disse que eles adivinharam, que ela decidiu encerrar antes para não atrasá-los ainda mais, que sabia que muitos estavam ali em horário de trabalho, que o trabalho deles era importante, que outras pessoas lhes estavam esperando para que as ajudassem com o trabalho que cada um dali realizava. Avisou a diretora da escola que gostaria de enviar à escola seus livros como presente e pedido de desculpas pela breve fala, e pediu se a escola faria a gentileza de repassar o presente a cada pai através do “correio” dos filhos. A diretora prontamente, disse que seria um prazer, e agradeceu em nome dos pais. A palestrante, cujo nome, Alberto nem sequer sabia, disse que o livro se chama: “Como se manter motivado quando tudo dá errado” e para eles não se assustarem, pois o livro é repleto de páginas em branco, que não é erro de impressão, mas que é proposital…

Havia parado de chover, Alberto saiu sem rumo, pensando naquilo tudo. Esse era um dia peculiar em sua vida, tão peculiar, que ele decidiu pensar diferente do habitual. Não sabia o que fazer, pediu ajuda ao seu pensamento, que parecia ter parado de pensar…. Atravessou a rua, sem saber o porquê, andou pela calçada, olhando para todos os detalhes como se tivesse sido cego a vida toda e via as cores do mundo pela primeira vez, viu uma padaria, e entrou sem pensar, sentou-se em uma mesa à janela, pediu um café e logo se deu conta de que voltou a chover. Foi então que o seu Pensamento, pela primeira vez, desde que havia saído da escola, ressurgiu: “Está vendo, você teve sorte, veio até aqui tomar seu café, nessa linda cafeteria, sem se molhar, agora aproveite para olhar em volta, ver o mundo, permita que a sua mente faça deslocamentos curtos, enquanto degusta seu café da manhã”. – Pensou Alberto, dentro de si mesmo, era seu próprio pensamento, que estava conversando com ele, como se fosse um amigo – pela primeira vez na vida.

Alberto, olhou em volta, viu um expositor pequeno, com dois jornais, umas poucas revistas e uns poucos títulos de livros à venda. Devolveu o jornal, quando viu um livro que lhe chamou a atenção: “Praticando os bons pensamentos”, decidiu comprar, voltou à mesa, pediu um segundo café e começou a folhear o livro, era da mesma autora de “Como se manter motivado quando tudo dá errado”, – “Que coincidência, acabo de ver essa escritora na escola ainda há pouco! ” – Pensou Alberto.

Mal começou a ler o livro e teve uma inspiração que não tinha nada a ver com o que estava lendo: teve uma grande ideia sobre como resolver o problema cujo qual, fariam a reunião desta manhã para tratar no seu trabalho. Havia se esquecido da reunião. Viu um ponto de táxi do outro lado da rua, terminou o café num só gole, pegou o livro, pagou a conta e foi para o trabalho de táxi. Enquanto estava no táxi, lembrou do seu carro, da multa, do que era preciso fazer… Mas logo disse para si mesmo – em pensamento – que ia primeiro resolver a questão do trabalho, pois havia ficado muito empolgado com a ideia e que depois se ocuparia do seu carro. Sentiu que o seu pensamento mal-educado, engoliu seco e fez cara feia, assim como criança quando faz algo errado e leva bronca dos pais. Alberto, se riu por dentro para si mesmo. Estava satisfeito.

Chegando no trabalho deu de cara com seu chefe que estava de saída. Pensou que não usaria as velhas desculpas de sempre, não se sentiu mal por estar chegando atrasado e decidiu aproveitar a oportunidade e falar a ele sobre a ideia que havia tido e que acreditava que ajudaria a empresa no problema que estavam enfrentando.

Cumprimentaram-se, o chefe falou que estava indo embora, pois a reunião havia sido cancelada, porque o especialista em finanças que haviam contratado de outra cidade, estava preso no tráfego aéreo. Alberto lhe falou sobre o que havia pensado e o chefe, achou incrível, ficou feliz com a nova opção que Alberto tinha encontrado para a empresa. O chefe convidou Alberto para almoçar, a fim de que pudessem continuar tratando sobre a assunto. Por fim, acabou contando a ele que havia tido um problema com o carro pela manhã e por isso havia se atrasado. Acabou ganhando carona do chefe e como bonificação pela ideia de Alberto, o chefe se ofereceu para pagar os prejuízos que Alberto teria relacionados a infração de trânsito cometida pela manhã.

Realmente, era um dia “daqueles”, Alberto sempre se lembraria desse dia como um marco de vida. Claro, que a partir desse dia, nem tudo foram só flores, vez ou outra, apareciam uns contratempos, lá e cá a sorte aparecia e assim era a vida de Alberto. O que mudou, foi que a partir desse dia, ele passou a se ocupar de exercitar seu pensamento, assim como se exercita o corpo, também começou a educar aquele que nunca havia sabido precisar de educação: o Pensamento.

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[1] Termos que vêm sendo usados e ganhando destaque há algum tempo, pelo filósofo Lúcio Packter em aulas, palestras e conferências ministradas sobre o tema da Educação do Pensamento em Filosofia Clínica.

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