O que é Filosofia Clínica?

Filosofia Clínica

A Filosofia Clínica é uma abordagem terapêutica sistematizada pelo filósofo Lúcio Packter, que considera e usa o conhecimento filosófico, ou seja, os conhecimentos da Filosofia Acadêmica (teoria) e os direciona à terapia (prática). A clínica filosófica implica em uma atitude filosófica do terapeuta, na qual são levados em conta os ensinamentos dos filósofos consagrados ao longo da história; estes, que desenvolveram conhecimentos filosóficos tais como a ética, a lógica, a epistemologia, a estética, a analítica de linguagem, a axiologia, a fenomenologia, entre outros.

Algo importante: A Filosofia Clínica não utiliza classificações ou tipologias, nem trabalha com conceitos como “normalidade”, “patologia”, “doença”, “cura”, “harmonia” ou “equilíbrio”. Singularidade é um dos princípios fundamentais da Filosofia Clínica. Não existem duas pessoas iguais. Portanto, se cada pessoa é única, com um modo de ser e funcionamento também únicos, é muito difícil encontrar um fundamento epistemológico para defender um conceito de “normalidade”, “harmonia” ou “saúde” que sirva para “todos” como uma métrica de recomendação geral. Cada pessoa é única em suas vivências, em suas experiências, representações de mundo e na forma com que encaminha suas questões.

Funcionamento

Como funciona a clínica filosófica? Em um primeiro momento, o motivo que levou a pessoa ao consultório, a queixa pode ser relatada. Em seguida, a pessoa é convidada a relatar as suas lembranças, sua historicidade, desde a lembrança mais antiga, sua infância, por exemplo, até os dias atuais. Este relato acontece com a mínima interferência do terapeuta, a fim de que a pessoa conte por ela mesma a sua história de vida e, é uma maneira de dar continuidade ao que o Partilhante está falando sem direcionamentos do terapeuta. Relatada a Historicidade, são realizados alguns Dados Divisórios nessa História de Vida narrada pelo Partilhante, cujo objetivo é esclarecer ao terapeuta o que não ficou muito claro. A partir disso, o Filósofo Clínico irá montar a Estrutura de Pensamento do Partilhante, juntamente com os Dados Categoriais obtidos, para que então, possam juntos, trabalhar nos Assuntos (Imediato ou Último) em questão.

Partilhante

Em Filosofia Clínica a pessoa que busca auxílio terapêutico pode ser denominada Partilhante, como dissemos antes, a Filosofia Clínica não utiliza termos como doença ou saúde (a Filosofia Clínica não nega a existência de doenças, apenas não trabalha com conceitos que separam e categorizam as pessoas em “normais” ou “doentes”), e por isso não há alguém que espera pelo “tratamento”, não há um “paciente” e sim um partilhante, pois a clínica filosófica será uma “caminhada”, uma construção  compartilhada.

Partilhante é quem decide partilhar algo de si, não é necessariamente preciso estar doente para ser Partilhante. Os “pacientes” ficam aos cuidados da Medicina e afins, na condição de Filósofos (e não de médicos) na Filosofia Clínica nos ocupamos das questões da existência. No tempo em que partia-se do pressuposto do problema (doença) para se buscar a solução (cura), era considerado um motivo de vergonha para alguns, buscar auxílio de um terapeuta; quando muito, só fazia terapia quem realmente necessitava. Mas seja a Terapia considerada pela sociedade um motivo de vergonha ou um luxo, hoje em dia, já há pessoas que são movidas por suas questões existenciais: elas não almejam por uma “cura”, as vezes querem apenas entender certas coisas, os porquês da vida, tratar dos seus relacionamentos, de questões profissionais, ou qualquer outra coisa e isso pode fazer dela um Partilhante: Alguém que tem o desejo de partilhar suas questões existenciais.

Historicidade

A Historicidade é a base, o eixo, onde está a matéria-prima do trabalho filosófico clínico. Os dados que permitirão as contextualizações, o entendimento da estruturação de pensamento da pessoa e as possibilidades através dos procedimentos clínicos que serão construídos na interseção Partilhante – Filósofo Clínico.

Representação de Mundo

O terapeuta considera o que a pessoa fala, as coisas, as representações, as verdades que ela traz. Falando de verdades, em Filosofia Clínica toma-se um cuidado respeitoso quando os assuntos são as “verdades” do partilhante. O essencial é o que a pessoa fala, é assim para ela, aquilo que a pessoa faz, vive, sente, imagina, é assim para ela, independentemente de ser compartilhado, aceito, ou criticado por outras pessoas.

Singularidade

Seria um erro considerar uma verdade universal para enquadrar qualquer pessoa, já que o que cada pessoa sente, vive e faz é assim para ela, é único. Não podemos então confundir e considerar como uma “verdade universal” o que é apenas uma “verdade convencionada”, uma “verdade social”. Essa verdade “convencionada” em clínica nada serve. A singularidade da pessoa, expressa pelas suas coisas, suas vivências, sua história de vida, aquilo que é “assim” para a pessoa, ou seja, a sua singularidade no mundo é o que será considerado na terapia aplicada pela filosofia.