Como cultivar o jardim da “Vizinhança” – Parte 2

Como cultivar o jardim da “Vizinhança” – Parte 2

4 Dicas para cultivar o jardim da vizinhança:

Consegue imaginar como seria a sua vida se existisse um poder capaz de transformar o seu mundo a partir de si mesmo, por exemplo, ao cultivar seu próprio jardim, os jardins da sua vizinhança acabassem por se transformar também?

Pois digo-lhes que tal poder existe (claro que não é para todos), mas pode ser que seja para você, já que algo em ti fez com que escolhesse ler este texto até aqui…

Contei certa vez, um conto de fadas contemporâneo, sobre um jardim de lavandas que com seu perfume atraiu uma nova vizinha que tocava violino…Trata-se de um conteúdo da Filosofia Clínica, na área das Autogenias, caso deseje entender melhor o conceito de “vizinhança” e saber como funciona a força da Composição entre Vizinhos, pode ler (clicando aqui). O que faltou dizer, é que aquela história foi baseada em fatos reais, por isso, agora nesta segunda parte, vou continuar a história falando sobre o que pode vir depois de iniciarmos as primeiras Composições com novos “vizinhos” em nossas vidas.

“Era uma vez um jardim de lavandas que vivia nos dias de hoje (…)” Talvez fosse um jardim encantando… tinha poderes mágicos capazes de interferir no mundo ao seu redor. Só que não sabia disso…

O jardim que gostava de música suave, fez surgir uma violista que adorava tocar seu violino sentindo o perfume das lavandas. Certo dia, alguém que passava por ali, que gostava muito de flores coloridas, acabou sentindo o perfume misterioso das lavandas e ouvindo a música do violino. Isso a encantou a tal ponto, de ela decidir se mudar para esse lugarzinho diferente em meio à agitação da plantação de prédios. Ela achou que ali seria um bom lugar para viver, montou seu jardim com flores coloridas, em vários vasinhos por sobre seus móveis favoritos em madeira de demolição, pôs suas cadeiras de vime no jardim, e ali se sentava nos fins da tarde para ler poemas, sentindo a brisa das lavandas ao som do violino. Agora já eram três, os vizinhos que faziam parte daquela Composição.

As lavandas, decidiram florir, pois tiveram essa ideia ao ver a alegria das flores coloridas da nova vizinha. A violinista teve a ideia de homenagear a Primavera, que ali diante de seus olhos estava florida e começou a tocar Vivaldi e suas Quatro Estações.

Alguém que já morava nas redondezas do jardim, viu toda essa mudança na vizinhança e isso despertou nele uma querida lembrança dos tempos de infância no interior, em que ajudava sua velha avó na horta. Pensava que a alegria de colher vegetais que ele mesmo plantava, nunca mais caberia no seu mundo atual, longe daquele tempo… Mas ele estava enganado! Teve uma ideia olhando os jardins de flores em vasos dos seus vizinhos, então plantou alface e também flores em pequenas floreiras e as colocou em sua janela. Se alegrou de um jeito que nunca mais havia ficado,  sentiu-se emocionado e grato por pertencer àquele lugar. Agradeceu aos vizinhos que ele nem se quer conhecia pessoalmente, por terem lhe proporcionado isso. Agora já eram quatro os novos vizinhos que se agregaram nesta composição.

Vieram também os pássaros, pois gostavam da natureza que estava começando no jardim da vizinhança, vieram até borboletas, que antes acreditavam estar extintas. Borboletas gostam de flores, elas existirão para os que cultivam flores, se você cultivar apenas pedras, irá acreditar que borboletas não existem. Também é assim para alguns que cultivam sentimentos ruins e depois se perguntam por que o amor não existe!?! O amor é como uma borboleta que surgirá onde houver flores. Há muitos tipos de borboletas, portanto, para cada amor que se busca, é necessário cultivar as flores certas para atraí-las.

As borboletas atraíram um fotógrafo, que pôs as fotos que tirou na internet, expandindo assim, os horizontes do jardim. Até quem não vivia ali, podia ver as fotos desse jardim, podia desse modo, até tornar-se seu novo vizinho, se assim o desejasse, ou simplesmente assim acontecesse.

O jardim que outrora começou com um pequeno vasinho de lavanda, trazido de um lugar distante, durante uma viagem de alguém, foi crescendo… Cresceu tanto, que cumpriu seu papel ali, neste lugar. O jardim já ganhara vida própria, tinha poder o suficiente para seguir sozinho, com seus vizinhos. Agora era hora de continuar a jornada!

A magia que o jardim inspirou, foi abrindo novos caminhos, ampliando horizontes, nunca dantes imaginados. A agitação urbana foi esmaecendo, ficou para trás. O jardim, se tornou muito maior que o entorno. O jardim agora, já era o próprio entorno, estava por toda parte, a nova vizinhança tinha se estendido por toda a “realidade”. A antiga vizinhança, finalmente, havia mudado! Na nova vizinhança agora havia também, um pequeno pé de ipê amarelo, recém-plantado, que já estava todo em flor… E das lavandas, se levariam umas boas sementes…

 

Nesse ponto, talvez alguns se perguntem: Cultivei o jardim da vizinhança, e agora, o que fazer?

Digamos que você tenha gostado da ideia e escolhido um novo “vizinho” para sua vida, vamos imaginar que foi o singelo vasinho que lavanda, que depois virou um jardim, você pode ter feito mudas de lavanda, plantado em novos vasinhos e presenteado as pessoas do seu convívio; mas uma disse que a planta morreu, que não teve sorte, outro não deu muita importância, porque lavandas não têm o menor sentido para ele, diferente do que é para você, outro ficou cansado com o trabalho em cuidar da planta… enfim, você chegou à conclusão de que o vasinho/vizinho que lhe fez bem, pode não fazer o menor sentido para os outros.

DICA 1: Os vizinhos que você aproxima de sua vida, são seus; pode ser que não tenham a menor afinidade com os seus velhos vizinhos. Tenha isso em mente!

Seus velhos e antigos vizinhos, talvez nem gostem dos seus novos vizinhos. Chega até a ser “normal”, quando alguém começa a fazer as malas para seguir um caminho de lapidação de si mesmo, em direção a algo que considera o mais indicado de acordo com a Estrutura de Pensamento, que os velhos vizinhos não queiram fazer as malas para ir junto, talvez eles até insistam para que você fique com eles, ou comecem a criticar a viagem existencial dos seus sonhos e façam de tudo para você não ir.

DICA 2: Quando se eleva um pouquinho o patamar autogênico de uma pessoa, os vizinhos do velho mundo não têm como acompanhar e sobreviver no novo mundo. Cabe respeitá-los e entender que cada um possui seu próprio caminho!

Mas não é preciso, ficar receoso, já que os velhos vizinhos não irão acompanhá-lo no seu novo “lar”, pois seus novos vizinhos irão lhe apresentar outros novos vizinhos deles, que terão tudo a ver contigo e, as coisas que não tinham a ver contigo, irão, aos poucos, ficando para trás… O que era nocivo à sua Estrutura de Pensamento (EP), provavelmente irá perdendo força e não lhe alcançará mais.

DICA 3: Uma vizinhança vai se tornando mais forte à medida em que vizinhos que tenham afinidades vão se agrupando. Fique atento para escolher vizinhos que combinem entre si, em muitos casos eles não podem brigar um com o outro, pois o Contraste pode enfraquecer o poder da Composição.

Não pense que quando você elegeu um novo “vizinho” para sua vida, ele ficará lá quietinho, paradinho… A vizinhança possui vida própria! É nesse ponto que a magia acontece: Você não tem como impedir as composições que os vizinhos farão por eles mesmos, mas você pode se beneficiar disso. É incrível como muitos caminhos poderão se abrir em sua vida por causa deles.

Joseph Campbell, que acredita-se ter sido “vizinho” de James Joyce, J. Krishnamurti, Thomas Mann, Freud, Carl Jung, Pablo Picasso, Paul Klee e outros, nos disse: “Siga a sua felicidade e o universo abrirá portas para você onde antes só havia paredes”. Veja, seguir a “sua” felicidade; não é seguir a felicidade dos outros, ou de uma sociedade, ou o que quer que seja, mas seguir àquilo que é a “felicidade” para você. (Se é que felicidade seja um caminho para você ou algo que seja a questão. Para muitos o foco existencial será exatamente o contrário disso…).

DICA 4: O primeiro passo é descobrir quais são as suas coisas. Descubra o que é de fato seu, aquilo que tem verdadeiramente a ver contigo e siga!

Alguns têm mais facilidade para tais descobertas do que outros. Há quem já saiba o que tem a ver consigo e só precise se recordar e caminhar nessa direção. Há quem necessite de ajuda durante a caminhada, há quem prefira companhia e quem goste de descobrir suas coisas sozinho. Há muitos jeitos de ser, inclusive o seu.

Alguns talvez sentirão que estão no caminho certo, pois os resultados falarão por si só… É quando de repente, as borboletas que você tanto havia corrido atrás – sem sucesso, estão vindo até você naturalmente. E você se dá conta de que cultivou o seu jardim, preencheu-o com coisas que tinham tudo a ver contigo.

Até o seu vizinho barulhento que tanto lhe incomodava, deve ter ido embora, pois você nem lembrava mais dele, o colega de trabalho chato também não lhe importuna mais, talvez tenha sido demitido, ou você mudou de trabalho para outro ainda melhor, no qual você possui muito mais afinidades, aquilo que você reclamava que lhe faltava, agora transborda abundantemente em sua vida… E isso só para citar três exemplos do texto anterior.

O que você gostaria de mudar em sua vida? Ou o que você poderia, – mesmo que não saiba, mudar para estar com uma vizinhança mais condizente com aquilo que tenha a ver com você, com a sua Estrutura de Pensamento? Como disse, certa vez, o filósofo Lúcio Packter, algo que me recordo mais ou menos assim: ‘Como seria a sua vida se você não tivesse os problemas que têm hoje?’

Cultive o jardim da sua “vizinhança”, provavelmente você se surpreenderá com o poder de transformação que Vizinhos em comum e reunidos podem ter. Talvez você perceba a magia na realidade, tal como era no tempo dos contos de fadas… Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, ‘uma flor nascerá no asfalto’[1], e assim, a Realidade será mágica.

Desejo que uma flor nasça no seu asfalto!


[1] Trecho do poema “A flor e a náusea” de Carlos Drummond de Andrade (1978).

(...)

Uma flor nasceu na rua!
 Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
 Uma flor ainda desbotada
 ilude a polícia, rompe o asfalto.
 Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
 garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
 Suas pétalas não se abrem.
 Seu nome não está nos livros.
 É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
 e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
 Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
 Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
 É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

(Carlos Drummond de Andrade)

 

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