O terapeuta filosófico pode ser um amigo disposto a ouvir, sem pré-julgamentos, que não interrompe para dizer que estamos errados, que o nosso sofrimento não é nada diante das desgraças do mundo, que nos acompanha nas questões existenciais que geram sofrimentos, quando, por exemplo, um problema com relacionamento, uma angústia, uma dificuldade no trabalho ou na vida pessoal, escolhas difíceis, medos incontroláveis, momentos em que os problemas parecem nos absorver e não conseguimos o distanciamento suficiente para direcionarmos a questão de uma maneira indicada e mais próxima da nossa própria maneira de ser.
Na Filosofia Clínica quem busca ajuda é chamado de partilhante porque é aquele que partilha – parte de sua “caminhada” – compartilhando suas questões existenciais com o filósofo clínico.
O filósofo clínico não pode direcionar as ações e decisões do partilhante se baseando em suas próprias verdades e valores pessoais. Não existe mais um “manual” do ser humano que diga o que é normal e o que é patológico. Existem maneiras singulares de ser no mundo, histórias únicas e incomparáveis, “remédios” da alma e para a alma, únicos para cada indivíduo.
A psicoterapia tem uma concepção diferente na versão filosófico clínica. O filósofo situa-se entre as amizades de quem partilha uma trajetória de vida tendo-se nisso a busca de opções às problemáticas: nesse contexto, a psicoterapia praticada pela filosofia despreocupa-se primordialmente, como opção, com as curas médicas do estudo e da terapêutica das doenças mentais, afastando-se dos critérios como normal/patológico, doente/saudável, de tipologias. Todavia, localiza-se mais no âmbito da área de Humanidades, enquanto filosofia. (Lúcio Packter – Caderno A)